Quinta
Caminhada pela Liberdade Religiosa reuniu milhares de pessoas em Copacabana e
reiterou a importância do diálogo inter-religioso
Lourival Mendonça - Assim como a intolerância, a arte da convivência e do respeito entre as religiões atravessa séculos de história. Nessa trajetória, momentos como o da Caminhada pela Liberdade Religiosa, ocorrida no domingo (16), representam a esperança de que um dia todos caminhem para o reconhecimento da diversidade de culturas e crenças. A presença do Programa Elos da Diversidade, da Superintendência de Educação Ambiental da Secretaria do Estado de Ambiente (SEA), fez lembrar aos participantes da caminhada que a agenda da tolerância religiosa inclui também o respeito à natureza como lugar de devoção e espaço do sagrado.
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Mãe Meninazinha: não temos que ser tolerados, temos que ser respeitados (Foto: Marcos Maia) |
É dessa forma que Mãe Meninazinha de Oxum, uma das mais antigas ialorixás em atividade no Rio de Janeiro, resume sua luta. Ela acredita no poder do diálogo e do respeito, porém, reconhece que há muito que avançar. Para ela, a fé em Deus e o respeito à natureza andam de mãos dadas.
“Nós, que somos ialorixás, sempre fomos guardiões da natureza. O orixá é a natureza, pedra, água, mata. E por isso, não podemos usar certos materiais, como barro, louças e garrafas em nossas oferendas. Não se usa garrafa, vela, alguidar. Usam-se folhas de bananeira, cabaças e outros materiais”, completou.
O padre Leonardo Holtz, da paróquia de Santa Terezinha, em Botafogo, no Rio de Janeiro, defendeu, durante a caminhada, que o verdadeiro cristianismo deve emergir em atitudes como a busca do diálogo e da compreensão.
“A ideia de ‘Deus’
não é propriedade de uma religião. Independentemente do credo de cada um, é
preciso reconhecer que a religiosidade do outro é importante. Cristo sabia
valorizar cada um em sua individualidade. Não adianta pregar o amor de Cristo e
não colocar isso em prática. Em nome da nossa fé, é o que tentamos fazer aqui,
juntos”, afirmou o padre.
Segundo Gustavo Fonseca, dirigente do Lar de Caridade de Quatis, município do interior fluminense, os rituais da umbanda não são realizados na natureza, mas reconhece que a preservação do ambiente é bandeira de todos que lidam com o sagrado.
“Viemos (à caminhada) somente com o propósito de somar, com a nossa doutrina, que é a umbanda, e estamos aqui para defender o respeito, com todos os médiuns e ogãs da casa. Já que se conhece a árvore pelo seu fruto, a quantidade de pessoas aqui já responde por si só. Cada um com sua cultura, com seu jeito de viver a espiritualidade”, concluiu.