22 de agosto de 2013

Uma questão real e cotidiana


No segundo dia da Jornada Ambiente Saudável é Ambiente sem Homofobia, relatos pessoais evidenciam a dimensão da diversidade sexual na sociedade

Mesa da Segunda Jornada Ambiente Saudável é
Ambiente sem Homofobia que debateu novos
 arranjos familiares e famílias LGBTs
“Essa conversa que estamos tendo aqui deveria acontecer todos os dias, em vários lugares, nas praças públicas”. A escritora Giorgina Martins estava entusiasmada ao final do segundo dia da Jornada Ambiente Saudável é Ambiente sem Homofobia, promovida pela Superintendência de Educação Ambiental (Seam) no auditório da Secretaria de Estado do Ambiente.

Escritora, professora de literatura infantil e integrante do movimento Mães pela Igualdade, Georgina participava da mesa debatedora e iniciou sua apresentação dizendo que falaria como “mãe”. Contou, então, os seus desafios desde que o filho, ainda criança, manifestou o desejo de ser “menina”. A fala sincera de Georgina motivou a participação da plateia – em perguntas e depoimentos pessoais, muitos aspectos da diversidade sexual e de gênero foram abordados.

“O importante é que o debate invada a sociedade trazendo esclarecimentos”, reforçou a psicóloga Anna Uziel, coordenadora do Laboratório Integrado em Diversidade Sexual, Políticas e Direitos (Lidis/UERJ). Também palestrante, ela já havia usado uma frase de Deleuze para comentar o tema: “basta não compreender para moralizar”.

Para a psicóloga, é preciso desconstruir paradigmas, “As pessoas se questionam de onde vem a homossexualidade, considerando que ser hetero é default (padrão). Para desconsertar eu pergunto: ‘o que leva uma pessoa a ser heterossexual’. Precisamos tirar o foco dessa diferença, há tantas outras entre as pessoas”, defendeu, depois de explicar os avanços que a comunidade LGBT teve no Brasil nos últimos quinze anos, com algumas decisões favoráveis a adoção de crianças por casais gays, ao uso do nome social e, sobretudo, à aprovação pelo Judiciário do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. “Mas essas conquistas esbarram em retrocessos como o estatuto do nascituro, a bolsa estupro, a proibição do aborto, a cura gay. É preciso ficar atento; a gente não pode descansar”, ressaltou.

Em seguida, a defensora pública Luciana Mota, ratificou o alerta, dizendo que ainda é muito difícil para a população LGBT ficar na dependência da decisão de juízes para ter garantidos seus direitos civis.

“A homofobia marginaliza expressivos segmentos da sociedade. Transexuais e travestis vivem apartados do
convívio social”, disse Luciana que é coordenadora do Núcleo de Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo (Nudiversis/UERJ), criado em 2011 especialmente para atender demandas de gênero e sexualidade. “Nós levamos ao Judiciário questões que juízes e magistrados não estão preparados para receber e decidir”, confirmou, apostando, no entanto, que “o caminho é esse, pois a Justiça funciona assim: é a quantidade de demandas que faz mudar a mentalidade”.

Mediadora nos debates, Vanessa Leite, pesquisadora do Lidis, incentivou a interação da plateia dando oportunidade para uma intensa troca de experiências, percepções e conhecimentos. “É fundamental que todas as questões venham à tona, que as pessoas se sintam à vontade para falar de sexualidade e de identidade de gênero, sem pudor ou medo. É assim que a sociedade avança”, finalizou.

Cena do filme Família no Papel, que expõe casos de
famílias homoafetivas que adotaram crianças no Brasil





Cores e amores
As cores e amores que o secretário Carlos Minc defendeu no primeiro dia da Jornada apareceram no filme que abriu o segundo dia do evento. “Família de Papel”, documentário dirigido por Fernanda Friedrich e Bruna Wagner, mostra sete casos de famílias homoafetivas que lutaram pelo direito de adotar crianças, em diferentes regiões brasileiras. Cada uma das cores do arco-íris embala uma dessas histórias, contadas por seus protagonistas reais, com sotaques diversos. O filme mostra os entraves judiciais enfrentados por homossexuais que querem ter filhos e se dispõem a adotar; em paralelo com os problemas vivenciados por crianças em abrigos e orfanatos.

“Fica evidenciado que o conceito de família é muito mais amplo do que o que se considera como natural. Família é com quem você conta na sua vida”, concluiu Vanessa Leite.

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