14 de dezembro de 2012

Mutirão retira 40 toneladas de resíduos na Floresta da Tijuca


A ação dos voluntários desobstruiu o rio que passa pelo Espaço Sagrado da Curva do S (Foto: Larissa Amorim)

Lourival Mendonça - O mutirão de limpeza e conservação, realizada na quinta-feira (13/12), revitalizou à Curva do S, localizada na Floresta da Tijuca, Zona Norte do Rio. Cerca de 250 voluntários, entre lideranças religiosas e adeptos de religiões de matriz africana, promoveram um grande esforço de mobilização e recolheram 40 toneladas de resíduos do local. O mutirão teve, ainda, a finalidade de sensibilizar a população e órgãos públicos para a causa de grupos que ainda sofrem com a intolerância religiosa.

Para limpar os rios, cachoeiras e os terrenos, os participantes foram divididos em seis grupos. Munidos de galochas, luvas, espátulas, vassouras e sacos plásticos, religiosos e voluntários de diferentes gerações se espantaram com a quantidade de resíduo que encontravam. Para Karoline da Silva Santos, de 13 anos,  “é importante que as gerações mais novas venham aqui e vejam o desrespeito ao ambiente, pois é o futuro de nossa religião que está em jogo”.

Segundo a superintendente de Educação Ambiental, Lara Moutinho, a importância da conservação do espaço sagrado enfrenta a barreira cultural da degradação do ambiente. De acordo com Lara, é essencial regulamentar a prática religiosa.

– Há leigos que, sem nenhuma relação de sacralidade com a área, deixam o resíduo no local. O religioso que acessa as áreas naturais não deixa resíduos. Não dá mais para acumular os restos de oferendas em qualquer lugar, a natureza não tem como absorver os resíduos produzidos – disse Lara.

De acordo com o consultor do Elos da Diversidade e articulador junto a comunidades e povos de terreiros, Pai Renato de Obaluaê, pedir licença à natureza para prestar esse serviço é fundamental.

– Nada na nossa religião pode ser feito sem essa reverência, que é ao mesmo tempo uma saudação e um pedido de permissão para agirmos sobre ela – ressaltou.

Ações de limpeza geram materiais reaproveitáveis
Parte dos resíduos recolhidos no mutirão será destinada à reciclagem. Após a limpeza e a desinfecção, os oberós (alguidares) servirão como vasos de planta ou como objeto decorativo. Cestos de palha, louças brancas, imagens e tecidos também foram encontrados e poderão ser reutilizados.

Maria da Graças de Oliveira Nascimento, integrante do Movimento Inter-religioso (MIR) explicou o significado do evento e ressaltou a relação do religioso com a natureza:

– Raramente essas pessoas se encontram e existem muitas diferenças entre eles, mas estamos aqui resignificando todo um conjunto de coisas. Povos do candomblé guardam uma ligação muito íntima e conservacionista com a natureza, já que sem as folhas não há axé. Aqui o que existe é uma pedagogia da harmonia com o divino – afirmou.

Para ela, o processo de urbanização provocou um desajuste entre as práticas religiosas e o ambiente, já que as oferendas que antes eram enterradas agora ficam expostas. A degradação dos parques e das unidades de conservação faz parte desse desequilíbrio.

– Hoje, o problema do lixo é consequência de toda uma cultura ambiental que isolou a natureza do homem, que a vê como meio e não como fim. Por isso é preciso se reeducar, e no caso dos povos de terreiro, esse processo passa pela busca da verdadeira essência dessas religiões, que é a ligação sistêmica com a natureza – disse Marias das Graças.

Ao término do mutirão, Oxum, a grande e amorosa mãe que traz o axé das águas doces, foi homenageada. Um dos seus filhos mais ilustres, Pai Zezito, introdutor do culto Ijexá no estado do Rio de Janeiro e uma das lideranças mais antigas do candomblé, lembrou da importância do mutirão e do encontro que ele proporcionou.

– Com os mutirões, as pessoas vão se educando, vendo e aprendendo. A limpeza também serve para lembrar que a natureza é inseparável do candomblé, que seu fundamento é a reverência às folhas, as árvores. Por isso, a educação é fundamental – concluiu Pai Zezito.

2 comentários:

Robson França disse...

Excelente iniciativa,deveria ter sempre mutirões como esse com a participação da sociedade, Parabéns!

Robson França disse...

Excelente iniciativa,deveria existir mais mutirões como esse com a participação da sociedade.Parabéns!