24 de agosto de 2013

Para ampliar o horizonte da cidadania

Desafios da transexualidade são apresentados no último dia da Segunda Jornada Ambiente Saudável é Ambiente sem Homofobia


Carlos Minc, ao lado de João Nery e Guilherme Almeida, 
encerrou a jornada celebrando as conquistas do 
movimento LGBT (fotos: Eduardo Peralta)
Ser chamado pelo nome social, poder usar um banheiro público sem constrangimento, ter atendimento na área de saúde, poder fazer o processo transexualizador, ter acesso ao mercado formal de trabalho. Esses são só alguns dos direitos que a população trans reivindica e que foram abordados no último dia da Segunda Jornada Ambiente Saudável é Ambiente sem Homofobia.

O evento, promovido pela Superintendência de Educação Ambiental da Secretaria de Estado do Ambiente (Seam/SEA), no Rio de Janeiro, reuniu acadêmicos e lideranças do movimento LGBT em quatro dias de debates e apresentações de documentários.  O tema do último dia foi a transexualidade. Mediados pelo estilista Almir França, coordenador do Centro de Referência e Promoção da Cidadania LGBT na capital do Rio de Janeiro, Bárbara Aires, João Nery e Guilherme Almeida contaram suas experiências pessoais como transexuais e esclareceram os principais desafios enfrentados no dia a dia por conta da não aceitação pela sociedade de suas identidades de gênero. 



“Nós não existimo, nas escolas, nos hospitais, nem no IBGE, que não nos contabiliza”, reclamou a ativista e produtora de TV, Barbara Aires (foto). Ela falou de suas tentativas incessantes e frustradas para conseguir um emprego: “como a maioria, eu vivi, por muito tempo, da prostituição, porque as portas se fechavam toda vez que eu me revelava como transexual. É um absurdo porque a identidade de gênero não diz se você é mais ou menos competente e profissional”.

Primeiro transexual masculino a ser operado no Brasil, o escritor João Nery também contou parte de sua peleja : “eu tirei documentos falsos e, por isso, passei a viver como criminoso. Perdi o meu currículo e meu histórico escolar. Tive que trabalhar como pedreiro, pintor de parede e em outras funções que não exigiam formação”.

Também o professor Guilherme Almeida, coordenador adjunto do Laboratório Integrado em Diversidade Sexual, Políticas e Direitos (Lidis/UERJ), disse ter “muitas histórias tristes para contar”, mas focou sua apresentação em oito desafios que a população trans deve enfrentar, entre eles o de disseminar uma compreensão “desfetichizada” da transexualidade: “a experiência trans é social e ambiental, não biomédica. É ordinária e não extraordinária. É polimorfa e dissociada da orientação sexual”.

Ao final das apresentações, reforçando a colocação feita por Bárbara Aires, Guilherme ponderou “nós não queríamos estar aqui. Eu quero que chegue o dia em que não seja preciso a gente se expor e falar desse tema. O dia em que, finalmente, a gente possa gozar do sagrado direito à indiferença”.

O secretário estadual do ambiente Carlos Minc encerrou o evento apontando essa perspectiva: “penso que daqui a 30 anos os conceitos serão outros e ninguém mais vai ser achacado por sua escolha. Quem hoje se lembra que há 100 anos as mulheres não votavam? Fico contente em participar desse movimento e receber aqui na Secretaria pessoas que lutam pela dignidade humana e que se expõem para ampliar o horizonte da cidadania. Isso é ecologia humana. Isso é cidadania plena”.

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