21 de outubro de 2010

Começa o 1º Curso de Formação de Monitores Socioambientais da Maré

Começou no último fim de semana, dia 16 de outubro, o curso de formação de monitores socioambientais da Maré (Edumaré). Durante dez sábados, 46 jovens das comunidades da região terão aulas com a abordagem de quatro módulos: “Descortinando o território”; “Direitos humanos”; “Corpo, gênero e sexualidade”; e “Saúde e ambiente”, num total de 60 horas.


A superintendente de educação ambiental da Secretaria de Estado do Ambiente, Lara Moutinho da Costa, explicou que os participantes serão capacitados para atuarem como articuladores em suas comunidades, com o objetivo de permitir que os moradores definam planos de intervenção e melhorias, com apoio do Estado: “Eles vão ter uma visão sobre a cultura sob o olhar das especificidades da Maré, assim como do ambiente e da natureza. Farão um diagnóstico da comunidade e um plano de ação. O importante é buscar uma agenda de prioridades no interior da comunidade, para que tenhamos sucesso na intervenção”, afirma Lara. A expectativa é de que a questão do saneamento, que envolve os resíduos e lixo, surja como primeiro item dessa agenda: “É um problema que se reflete na saúde e produz efeitos como as enchentes, que são problemas ambientais e sociais e estão associados”, completa.


A capacitação visa a fortalecer a comunidade por meio da atuação dos monitores, que interagirão com os grupos em maior vulnerabilidade socioambiental na Maré e incentivarão a participação deles na gestão ambiental e na promoção do desenvolvimento local e cultural.


A primeira atividade do curso foi uma palestra do módulo “Descortinando o território” — com o tema “Memória e identidade” —, feita pelo diretor do Museu da Maré, Antonio Carlos Pinto Vieira, o Carlinhos. Ele falou sobre a própria experiência de vida na comunidade, desde a chegada de seu avô, nos anos 40, na área do Timbau, até a formação de cada uma das 16 comunidades que compõem o bairro oficializado em 1994. Lembrou que a Maré — confirmando o significado da palavra — é um lugar em mudança permanente. O que lhe dá vida e dinamismo.


Carlinhos mostrou mapas e fotografias da formação da região ao longo dos séculos e destacou a importância estratégica de sua localização: “Aqui é um entroncamento dos mais importantes do país. Pela Maré passam a Avenida Brasil, a Linha Vermelha e a Amarela; aqui estão a UFRJ, a maior universidade do Brasil, e o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro”, comentou. E lamentou, no entanto, que, apesar dos fatos, a Maré ocupa a 157a posição no IDH (índice de desenvolvimento humano) entre 160 bairros da cidade. Segundo o censo 2.000, são 132.670 habitantes, divididos em 38.273 domicílios, num total de 2,3% da população do município.


Um dos objetivos da palestra, afirmou, foi o de mostrar aos jovens que o local onde vivem tem história e que eles devem se orgulhar dela. Carlinhos falou sobre a dificuldade que ele próprio já enfrentou de se admitir como morador de uma favela: “Muitas vezes, na faculdade, no início da década de 80, por exemplo, logo que cheguei, dizia que morava em Bonsucesso, para facilitar minha aceitação pelos demais. Só aos poucos fui dizendo que era morador da Maré”, revela. A receptividade ao relato demonstrou que o problema e a tática se repetem até hoje entre os jovens.


Como parte do programa de recuperação do Canal do Fundão, outra questão abordada foi a de mostrar que a responsabilidade pela degradação ambiental da região não pode ser creditada à população local. Ele mostrou a participação decisiva do poder público que, por meio de políticas aceitas à época, criou as condições que resultaram no quadro atual. Entre elas o aterro de oito ilhas que formavam um arquipélago, para a criação da Ilha do Fundão (no local, foi instalada a UFRJ), além dos sucessivos aterros como, por exemplo, para a abertura da Avenida Brasil. Houve, ainda, o incentivo à instalação de indústrias altamente poluidoras às margens da Baía de Guanabara, sem a preocupação com o despejo de resíduos nas águas. “A população tem sua responsabilidade, mas os grandes responsáveis pela situação que encontramos são as empresas e o poder público. Não é correto tentar nos culpar e nos fazer crer que somos os vilões dessa história”, diz.


Os 46 participantes são indicados por diferentes entidades das comunidades da Maré, com o compromisso de atuarem como multiplicadores dos conhecimentos e, dessa forma, fortalecê-las. Segundo Lara, os diagnósticos identificarão os problemas e os potenciais culturais e sociais. Ana Santiago, coordenadora do programa, destacou que as aulas dos módulos serão ministradas por especialistas ligados à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Participaram da abertura representantes das entidades parceiras no projeto, como Nilton Pereira de Albuquerque, do Centro Comunitário de Defesa da Cidadania (CCDC), que destacou os quatro anos de luta até o início do projeto e ressaltou a importância de a comunidade aproveitar a oportunidade. Já Lourenço César da Silva, do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), disse que é necessário pensar no projeto como uma oportunidade para a coletividade: “Temos que conscientizar nossas vizinhanças e mostrar que cada ação individual reflete o ambiente coletivo”. Wladmir Aguiar, diretor da Associação Comunitária e Escola Rádio Progresso (Acerp), ressaltou o papel de multiplicador que cada participante terá em sua comunidade.

2 comentários:

Shirlene disse...

Muito legal o projeto!
Mas é uma pena que no complexo
da maré ,que contém diversas comunidades e mais de 130 mil moradores,apenas 46 jovens tenham a oportunidade de participar!
Eu sou moradora da vila do joão,e até
sexta dia 22 não sabia sequer da existência do projeto.
Gostaria muito de participar!

Letícia disse...

Sinceramente os jovens não só da mare mais de outras comunidades tbm precisão ter um conhecimento maior da natureza, seus deveres i direitos o curso foi ótimo estão de parabéns